sábado, 27 de junho de 2009

De Porto Alegre a Pelotas, em Busca do Joquim Real


Enquanto alguns alunos nossos, do Colégio Concórdia de Porto Alegre, projetam e desenvolvem seus aviões dentro do Projeto Cantando a Física com Joquim, reunimos um pequeno grupo de seis estudantes-pesquisadores e fomos a Pelotas em busca da história do Joquim real, que Vitor Ramil canta.

Saímos às 6h15min de uma madrugada fria e úmida e chegamos às 10h na ensolarada e histórica Pelotas, nesta sexta-feira, 26 de junho de 2009. Nos encontramos com a professora e escritora Zênia De León, na Academia Pelotense de Letras. Como estávamos munidos de câmeras, tripés e ouvidos aguçados, a entrevistamos sobre o que ela sabe sobre o Sr. Joaquim da Costa Fonseca Filho (1909-1968), que inspirou a canção. Ela foi imensamente atenciosa e, logo, percebemos sua dedicação em contar a Pelotas esta história esquecida. Aliás, foi através do seu livro, Pelotas, Casarões Contam Sua História - 5V, Ed. Hofstatter, que tomamos mais conhecimento sobre os feitos dele.

Joaquim Fonseca foi um
pelotense, mecânico e inventor, que, na década de 30, construiu dois aviões: o F1, com motor Ford e roda de bicicleta, que depois de vários testes, voou na região; e o F2 - Cidade de Pelotas que alçou voos ainda mais altos. No início dos anos 40, este avião ficou famoso e levou seu construtor ao Rio de Janeiro, em busca de homologação. Fonseca foi recebido por Salgado Filho (1888-1950), primeiro Ministro da Aeronáutica, e teve seu avião testado com sucesso; e dizem que com destaque, na comparação com outros importados da mesma categoria. E, assim, na ocasião, essa aeronave foi homologada e teria trazido Joaquim e Elda Fonseca, sua esposa e incentivadora, do Rio a Pelotas.

No início da tarde, fomos até à Fábrica Guarany Escapamentos e nos encontramos com um dos filhos do Joquim real, o Sr. Joaquim da Costa Fonseca Neto. Nos recebeu com emoção, ao ver a história de seu pai reavivada por nossos alunos. Nos mostrou duas de suas máquinas que foram construídas por seu pai na década de 40. Uma seria uma Dobradeira de Tubos e a outra, uma Prensa Mecânica, em pleno funcionamento, unindo partes das surdinas. Depois, em seu escritório, nos mostrou fotos antigas, desde a imigração de Portugal de seu avô, Joaquim da Costa Fonseca, em 1900. Durante a sua entrevista, nos contou sobre a história da sua família e também sobre as lições que seu pai teria deixado. Nossos alunos-pesquisadores o escutavam com atenção e formulavam, também, as suas questões, certos de que estavam diante de um grande momento do nosso projeto. Por último, nos conduziu até o porão da casa da rua Gonçalves Chaves, n. 516, onde foi construído o F1. Foi lá que a planta deste avião se transformou em asa, fuselagem, trêm de pouso e onde, certamente, seu construtor sonhou muito. Foi um momento muito fotografado e emocionante para todos que nos acompanhavam.

Dalí, partimos para a Universidade Federal de Pelotas, onde encontramos o pesquisador Sérgio Peres, que defendeu sua dissertação sobre o assunto, no Mestrado de Memória Social e Patrimônio Cultural. Com ele, conhecemos elementos mais profundos dessa história esquecida por Pelotas. Ele disse que a cidade precisa reconhecer os feitos de Joaquim Fonseca, sob pena de que os mitos fiquem sobrepostos aos fatos. Contou que a história real de Joaquim Fonseca, por si só, já é uma aventura interessante e emocionante. Sérgio nos mostrou que seu contato com a aviação vem desde a juventude, quando já teria ído prestar serviço militar no Rio de Janeiro. Lá, ele aproxima-se da Escola de Engenharia da Aeronáutica e, frequentando as suas oficinas, amplia seu conhecimento sobre o assunto. E, quando retorna, monta a sua oficina mecânica, adaptando veículos para o transporte interurbano e preparando carros para competições da época - inclusive destacando-se como piloto em algumas. No início dos anos 30, passa a fazer parte da diretoria do recém criado Aeroclube de Pelotas e constrói, então, o F1 e, a partir de 1936, o F2 - Cidade de Pelotas, que fica pronto em 1939.

Naquele momento, suas energias se voltavam para a reivindicação de recursos e apoio das autoridades competentes para instalação de uma fábrica de aviões em Pelotas. Contam, também, que o terceiro avião chegou a ser projetado, apresentando qualidade superior, mas teve sua homologação indeferida pelo Ministério da Aeronáutica, alegando má qualidade da madeira utilizada. E acredito que sua indignação foi tão grande que "deflagrou uma furiosa campanha de denúncias e protestos contra os poderosos", como diz na canção.
E, se de fato não o fez, é de se imaginar que tenha desejado fazer. E deve ter sido por aí que mudou definitivamente seus interesses para o ramo dos escapamentos automotivos.

Fica até os dias atuais a pergunta sobre o impacto dessa fábrica sobre a economia pelotense e gaúcha, caso o Joaquim tivesse conseguido mais esse feito. O fato é que não conseguiu e a falta de incentivo e visão da classe política da época, apesar da amizade com Ruben Berta, Salgado Filho e outros nomes de expressão na aeronáutica gaúcha e nacional, não deixou que a idéia da fábrica de aviões saísse do seu projeto pessoal.

Mas, nunca fui professor que acreditasse que só o sucesso ensina. A prova é que estamos aqui, construindo nosso avião e, de alguma forma, revivendo, com nossos alunos, uma parte da história da aeronáutica gaúcha . Encontramos esta história e queremos que ela seja reconhecida em seus fatos e reelaborada pelas pessoas. Enfim, que não seja esquecida, que nos ajude a ser melhores. Viva o Joquim real! Viva o Joaquim Fonseca!
Estiveram lá:
Adriana Bonifacino de Martino
Andressa Gobbi Turra
Camila dos Reis Vieira
Jéssica Medeiros Pereira Alves
Reciere Reschke Piovesan
Willian Américo Paes
Prof. Gilberto Leal Fonseca
Prof. Luciano Boeira


7 comentários:

Olavo Ludwig disse...

Luciano,

Emocionante saber um pouco mais dessa história, excelente o teu trabalho reavivando tudo para as novas gerações. A classe política parece ser sempre o grande empecilho para o desenvolvimento interno, desde 2007 tenho acompanho um grupo de discussões sobre veículos elétricos, e vejo, como existem projetos nacionais fantásticos, precisando apenas de apoio, e o que ocorre é justamente o contrário.

Reci disse...

a viajem não poderia ter cido melhor, tinha duas coisas essenciais: amigos e interesse pelo trabalho.

Sérgio disse...

Caro professor,
Repito-lhe aqui as observações que já lhe havia feito, no intuito de que faça as devidas correções.
1- Vitor Ramil não canta o Joaquim Fonseca, ou o Joquim real;
2- O primeiro trabalho de cunho biográfico sobre esse ator social poderá ser encontrado a partir de setembro na revista eletrônica Memória em rede, da UFPel;
3- Há passagens em seu texto que estão truncadas, como o momento em que faz juízos acerca da reação de Joaquim Fonseca, ou aquele onde o pesquisador aparece como se ele próprio tivesse vivido o que na verdade fora vivido por Joaquim Fonseca, ou seja, a experiência com aviões quando Joaquim prestou serviço militar no Rio;
4- Da mesma forma que a escolha de fontes é determinante no resultado do trabalho do pesquisador, também as escolhas feitas pelo seu grupo de trabalho podem vir a criar obstáculos aos possíveis bons resultados de seu projeto. Imaginemos, num futuro próximo, após seus aeromodelos terem alçado vôo com sucesso, aparecer uma canção que em nada lembra o esforço e a construção do conhecimento de seus alunos. Talvez esse exercício lhe dê alguma idéia do que a canção Joaquim fez pela história de Joaquim Fonseca.
Abraço cordial
Bom Trabalho
Sérgio

Unknown disse...

muito legal o teu blog sor
desejo que tu conquiste todos os teus objetivos com esse projeto.
abraço
marina

Unknown disse...

VAAI VOOOAR JACK !!!

Anônimo disse...

mUITO BOMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM!

Anônimo disse...

Chego até aqui para marcante letra da musica de Vitor Ramil, que sempre me inspirou curuosidade.
Na verdade trazendo ao seculo 21, Joaquim Fonseca foi + 1 que não sou be jogar o BBB de interesses economicos e egos.
Parabens aos jovens pela pesquisa de campo, e dos professores em fomentarem tal pesquisa.
Gerson Weber